Inferno na Torre[1]
A Ciência Jurídica, talvez mais acentuadamente em suas deturpações, várias vezes teve o fogo como aliado.
Desde o Malleus Maleficarum, na Idade Média, que as fogueiras foram postas a serviço da Inquisição, forma de operacionalização perversa do Direito Canônico.
Por outro lado, o Vermelho costuma ser a cor favorita dos juristas, bem como o fulgor do rubi, de um chamejar sinestésico, que desperta o calor dos debates e o aristotélico comércio da palavra.
Mas tudo tem um limite. Essa adoração pode levar a fins catastróficos, se medidas enérgicas e mediatas não forem tomadas em nossa Vetusta Casa de Afonso Pena. Deixemos essa soporífera arenga de lado e vamos ao calor da discussão.
A fiação da Faculdade, precipuamente do Edifício Prof. Villas Boas, encontra-se em estado lastimável. As gambiarras espalham-se de maneira vultuosa, tornando-se a regra e não a exceção.
Não há um só extintor de incêndio dentro do prazo de validade. O prédio pode funcionar como uma estufa, pois não há um bloqueio arquitetônico ao fogo. Não há escadas externas para evacuar o prédio em emergências. Nunca foi feito um treinamento de evacuação do edifício em caso de incêndio. Aliás, não há sequer um alarme contra incêndio.
Certa feita, conversando com um funcionário que realiza serviços diversos na Faculdade, relatou-me ele (diga-se de passagem, enquanto minimizava um incêndio no 15º andar) que o perigo real encontra-se na biblioteca, onde a fiação faz um emaranhado impenetrável e que basta segurar um fio encapado para as mãos tremerem, dada a corrente que percola a fiação.
Mais ainda, narrou-me que, certa feita, durante um fim de semana, houve um vazamento de água na biblioteca e que encontrou a água em estado de ebulição, tal a energia despendida pela eletricidade.
Pensar na hipótese de um incêndio no horário de aula causa calafrios.
Não podemos confiar tanto na sorte. Não vamos pensar que “isso não acontece conosco”, pois pode muito bem ocorrer.
Vamos deixar o termo Vetusta somente para a tradição, para respeito à memória da Faculdade e outras nobres finalidades, e não para a nossa segurança.
Choros de vítimas só recairão sobre cinzas e não apagarão incêndios.
[1] STANCIOLI, Brunello. Inferno na Torre. Belo Horizonte, VOZ ACADÊMICA, n. 1, Fevereiro de 1997, p. 14.
Tudo bem. O texto está meio gongórico. Mas pelo menos mostra minha preocupação desde há muito...
A Ciência Jurídica, talvez mais acentuadamente em suas deturpações, várias vezes teve o fogo como aliado.
Desde o Malleus Maleficarum, na Idade Média, que as fogueiras foram postas a serviço da Inquisição, forma de operacionalização perversa do Direito Canônico.
Por outro lado, o Vermelho costuma ser a cor favorita dos juristas, bem como o fulgor do rubi, de um chamejar sinestésico, que desperta o calor dos debates e o aristotélico comércio da palavra.
Mas tudo tem um limite. Essa adoração pode levar a fins catastróficos, se medidas enérgicas e mediatas não forem tomadas em nossa Vetusta Casa de Afonso Pena. Deixemos essa soporífera arenga de lado e vamos ao calor da discussão.
A fiação da Faculdade, precipuamente do Edifício Prof. Villas Boas, encontra-se em estado lastimável. As gambiarras espalham-se de maneira vultuosa, tornando-se a regra e não a exceção.
Não há um só extintor de incêndio dentro do prazo de validade. O prédio pode funcionar como uma estufa, pois não há um bloqueio arquitetônico ao fogo. Não há escadas externas para evacuar o prédio em emergências. Nunca foi feito um treinamento de evacuação do edifício em caso de incêndio. Aliás, não há sequer um alarme contra incêndio.
Certa feita, conversando com um funcionário que realiza serviços diversos na Faculdade, relatou-me ele (diga-se de passagem, enquanto minimizava um incêndio no 15º andar) que o perigo real encontra-se na biblioteca, onde a fiação faz um emaranhado impenetrável e que basta segurar um fio encapado para as mãos tremerem, dada a corrente que percola a fiação.
Mais ainda, narrou-me que, certa feita, durante um fim de semana, houve um vazamento de água na biblioteca e que encontrou a água em estado de ebulição, tal a energia despendida pela eletricidade.
Pensar na hipótese de um incêndio no horário de aula causa calafrios.
Não podemos confiar tanto na sorte. Não vamos pensar que “isso não acontece conosco”, pois pode muito bem ocorrer.
Vamos deixar o termo Vetusta somente para a tradição, para respeito à memória da Faculdade e outras nobres finalidades, e não para a nossa segurança.
Choros de vítimas só recairão sobre cinzas e não apagarão incêndios.
[1] STANCIOLI, Brunello. Inferno na Torre. Belo Horizonte, VOZ ACADÊMICA, n. 1, Fevereiro de 1997, p. 14.
Tudo bem. O texto está meio gongórico. Mas pelo menos mostra minha preocupação desde há muito...